quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Comentário do Professor Ricardo

Lá, parece que o tempo passa mais devagar. Nada de computadores, pen drives, “MPs”. Visitar Diogo e Vila do Arial é sair um pouco da loucura da cidade grande e poder contemplar a obra de Deus no seu mais puro e sublime estado natural. Ao entrarmos, percebemos a natureza nos convidando a refletir sobre as coisas boas da vida. Durante todo tempo da nossa visita nos fizeram companhia o rio Imbassai, a fauna, a flora e moradores que de tão felizes parecia nos satisfazer com a própria satisfação de viver ali. Ao sairmos, a convicção de que uma espécie de outro mundo havia ficado para trás.

Por causa de suas belas paisagens naturais e uma vasta e rica história a faixa litorânea dos municípios de Mata de São João, Entre Rios, Esplanada, Conde e Jandaíra (região popularmente chamada de Linha Verde) foi transformada numa Área de Proteção Ambiental em 1992, quando o governo da Bahia determinou o prolongamento da rodovia BA-099 desde os limites da Região Metropolitana de Salvador/RMS até a divisa com o Estado de Sergipe. O reconhecimento que a implantação da Linha Verde acarretaria relevantes impactos ambientais nos ecossistemas costeiros e importantes modificações no contexto socioeconômico e cultural da região, justificou a criação da APA do Litoral Norte da Bahia (APA LN) como instrumento da Política Nacional de Meio Ambiente, adequado para o ordenamento ecológico-econômico daquela porção litorânea.

Com uma ocupação iniciada na segunda metade do século XVI, a região desempenhou, no passado, importante papel de articulação com a economia açucareira que florescia no Recôncavo Baiano. Provendo, por quase um século, o Recôncavo e a cidade de Salvador com produtos das mais variadas espécies, estruturou uma economia fortemente assentada na pecuária extensiva, na pequena agricultura e no extrativismo vegetal e animal. No final do século passado, uma grande extensão de terra foi adquirida por um excêntrico prussiano, naturalizado norte-americano, que, instalando-se na área, deu início a um próspero negócio de exportação de produtos florestais. Data dessa época o início do povoamento do Porto de Sauípe, por onde escoava a produção extrativa. Poucas alterações ocorreram na região até meados do século atual.

A descoberta de petróleo, nos anos 50/60, constituiu o primeiro elemento de dinamização na região, tendo a PETROBRÁS se implantado nos municípios de Pojuca, Mata de São João, Itanagra, Entre Rios e Cardeal da Silva. Tratava-se de uma ruptura em relação ao que existia, na medida em que as atividades ligadas à prospecção e exploração do petróleo aportavam capital, capacidade empresarial e mão-de-obra especializada.

A partir de então, a criação de empregos para trabalhadores semi ou sem- especialização teve implicações diretas na composição da estrutura social da região, com uma maior presença de segmentos médios de renda. A demanda gerada por esses segmentos, associada à demanda de populações do seu entorno, especialmente dos segmentos de maior poder aquisitivo, traduziu-se em novas demandas para o setor imobiliário, de construção civil e infra-estrutura, o que estimulou o desenvolvimento das incipientes estruturas urbanas existentes. Isso gerou um conflito entre as populações nativas e o grande empresariado nacional e internacional acelerando o processo de proletarização dessas comunidades. Justamente por isso do ponto de vista histórico-cultural e social pode-se considerar que a população residente ao longo da APA Litoral Norte não se diferencia substancialmente: é jovem, pobre e pouco preparada para o enfrentamento de um processo de mudanças sócio-culturais e econômicas baseado na eficiência e na competitividade.

Como resultado essa população teve que sobreviver em pequenos povoados, mantendo um vinculo direto com a natureza. Afastados dos grandes meios produtivos passaram a usar a natureza de maneira sustentável. Pesca, artesanato e produção de farinha são seus meios de sobrevivência. Enfim, a organização social no Litoral Norte tem como uma das suas bases fundamentais o exercício de atividades primárias de cultivo ou extração, de cunho familiar e baixa tecnologia, o que contribui para que a ação do homem sobre o meio ambiente não tenha sido tão predatória, fazendo prevalecer uma ambiência e estilos de vida, sob muitos aspectos, próprios de sociedades não-tipicamente capitalistas.

Assim, tem-se um conjunto de relações sociais e econômicas que se caracterizam pela forma direta e não-monetária de atendimento às necessidades, sendo a disponibilidade de recursos naturais o dado fundamental à determinação desse tipo de prática. Isso implica uma relação muito particular entre qualidade de vida e meio ambiente, uma vez que a inserção social de grande parte da população tem como contrapartida o acesso a um conjunto de bens e recursos não-monetarizados. Dessa maneira, a condição de “pobre” não está diretamente relacionada à miséria, estado típico de parcelas expressivas dos habitantes dos grandes centros urbanos.

No mais esperamos vocês nos dia 03 e 08/09 para que possam ver tudo isso e muito mais. Beijo no coração e até lá.

Professor Ricardo

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